Domingo - O Padre

- “...e livrai-nos do mal, amém.”
Com um lento e desanimado sinal-da-cruz, o Padre encerra sua oração. Já é a terceira do dia, do quadragésimo quinto dia. Confinado em sua modesta paróquia quase derrubada, isso é tudo que o Padre pode fazer para não cair em desespero. Contar os dias e orar o máximo que puder. Sem comida a uma semana, e sem ver nada além das criaturas semimortas ganindo e rastejando, pobres almas atormentadas que deixaram na terra corpos apodrecidos, agora reanimados para punir a humanidade de seus pecados. Ainda de joelhos, o Padre apóia a cabeça nas mãos cerradas uma sobre a outra.
- Oh, Pai... Por quê? Me deixar sozinho neste inferno, e minha única companhia são os mortos urrando lá fora. Isso é um castigo? Uma benção? Uma missão? O quê? – o padre então deixa as lágrimas vazarem, já não suportava mais – ONDE ESTÁ VOCÊ!?
Após isso apenas o silêncio, um silêncio que não acalmou o Padre, mas o deixou ainda mais aterrorizado, pois conseguiu ouvir os sons de rachadura logo atrás do enorme cristo crucificado de madeira na parede acima dele. A cruz se desprende de uma forma quase que proposital e tomba na direção do Padre. Este, com movimentos rápidos, pula e rola para longe da cruz.
Assim que se levanta ele percebe novamente o silêncio que precede as desgraças, seu coração acelera. As criaturas fora da igreja foram atraídas pelo estrondo. Elas irrompem pela porta frontal da igreja, urrando, soltando sangue e víceras pelo chão. O Padre já esperava por isso há tempo, e já tinha uma saída oculta nos fundos do altar. Com uma agilidade atlética, o Padre pula por uma mesa de madeira quebrada ao lado do altar, arromba a porta para os fundos e dispara pelo corredor. Apesar de ter se tornado padre há mais de dez anos, ele era praticamente jovem, e seu físico antes trabalhado na adolescência não era dos piores, isso lhe permitia ter uma vantagem grande contra essas criaturas.
A saída secreta terminava em uma rua cercada por carros destruídos e construções tombadas. O Padre desvia dos obstáculos, sem diminuir o ritmo, nem olhar para trás, não importava o que viesse. Deus estava com ele. Estava?
Correu por horas, não se sabe quantas, até não agüentar mais. Em alguns quarteirões fora perseguido por outros morto-vivos, mas isso não o fez parar nem por um instante, até que enfim ele encontrou refúgio.
Por trás de vigas de madeiras e postes tombados, se erguia a sombra de uma pequena capela, inacreditavelmente intacta. Aquilo surpreendeu o Padre a ponto dele cair de joelhos. As portas da capela estavam entreabertas, sem nenhum arranhão. Acima da capela, dois postes e uma árvore tombados se seguravam,sem nem chegar a tocar-lhe o telhado.
- Obrigado, Senhor...Louvado seja...
Se recompondo,o Padre adentra a capela e fecha as portas. O lugar intacto e limpo reacendeu um pouco de fé no Padre, como se ele estivesse vendo Deus lá dentro.

Mas até onde um homem vai antes de duvidar de suas virtudes mais indubitáveis?

Segunda-Feira - O Casal

“Finalmente o barulho parou, depois de nove dias eles já devem ter ido embora”, pensou Glenn, olhando para Johanne, que adormeceu em seu colo. Até que enfim ela parou de chorar, estava aterrorizada.
Glenn começa a refletir sobre o que fizeram, se trancaram em um abrigo extremamente forte, com um suprimento de anos para várias pessoas, estavam a salvo. Em troca disso, deixaram dezenas de pessoas berrando na porta implorando para entrar, agora já devem ter sido dilacerados. Ele novamente olha para Johanne.
Já não era uma época boa para eles, estavam a beira da separação, e logo quando planejavam o noivado. Talvez tudo o que sentiram não passou de êxtase passageiro, agora já não sentia mais nada. A única coisa que os mantinham unidos era o medo de ficarem sozinhos.
Aos poucos Johanne desperta, ela senta no chão. Eles trocam ligeiros “Oi”s e o silêncio segue por alguns minutos.
- Acha que... Acha que eles podem entrar aqui? – murmurava Johanne, ela perguntava isso quase todo “dia”.
Glenn já estava irritado o bastante com a situação, já não tinha a mesma paciência de oito dias atrás.
- Não sei, ta bom? Talvez entrem, talvez não, não sou eu quem decido!
Johanne apenas ficou quieta, virou a face e Glenn percebeu uma vaga expressão de choro. Não sabendo mais porque, a abraçou.
- Não chora. Olha, não chora, me desculpe, ta? – ele se agacha na frente dela, põe as mãos na cabeça dela e lhe dá um beijo na testa – a gente vai ficar bem, não é hora pra discutirmos, desculpe.
O breve momento romântico é interrompido por um estrondo, algo havia entrado pela pequena janela do abrigo e caiu em cima de várias caixas de comida enlatada. Uma criatura se levanta do meio das latas caídas, Glenn o reconhece, era um dos homens que ficaram para fora do abrigo, mas agora ele tinha olhos completamente embaçados, a mandíbula pendendo pela metade, pele acizentada, uma perna virada expondo o osso atrás do joelho e o sangue caindo por todos os buracos e feridas do corpo dele. Atraídos pela investida do “companheiro”, outras criaturas se apertavam para tentar entrar no abrigo pela janela quebrada. Johanne solta um longo e pavorosos grito, retribuído por um berro do morto-vivo. Glenn a puxa e destranca a grossa porta de chumbo do abrigo, porém a tranca emperra pela metade.
- Porcaria, isso deve tá enferrujado.
- Gleeeeeenn... – Johanne choraminga e se esconde atrás de Glenn, o morto-vivo tenta agarra-la e por pouco não a pegou.
Com um impulso, Glenn chuta a criatura, que tomba na própria perna quebrada e cai. As outras criaturas já entrando no abrigo. Com toda a sua força Glenn puxa a tranca, finalmente abrindo ela e – sem querer – acertando uma cotovelada no nariz de Johanne, que começa a sangrar.
- Ai! Glenn!
- Opa, desculpa. Vem, a gente tem que sair.
Glenn segura a mão de Johanne e os dois saem pela porta do abrigo. Do lado de fora mais morto-vivos estavam rondando a entrada, um deles avança em cima do casal, que no susto tombam no chão. Glenn segura o monstro com os pés e o empurra em cima dos outros. Ele e Johanne se levantam, mas antes que pudessem fazer algo, uma mulher com um olho e parte do tórax faltando agarra Johanne pelo cabelo. Alguns poucos segundos de luta e Glenn puxa Johanne, soltando ela das mãos da criatura, que fica com uma boa quantia de cabelo entre os dedos esqueléticos. O casal corre por alguns quilômetros, perseguidos por mais e mais criaturas. Em um momento, eles são forçados a atravessar uma pequena ponte de madeira. Johanne corre na frente,e Glenn acompanhando de perto. Em poucos instantes Johanne ouve o som de madeira quebrando. Ela olha para trás e vê que Glenn pisou em uma tábua quebrada e sua perna estava presa,com parte da tábua entrando pela coxa.
- AAAAAHH!! Jo! Me ajuda!
Johanne olha para a multidão de criaturas vindo na sua direção. Os poucos segundos em que ela pensou na decisão que deveria tomar lhe pareceram horas. Ela recua alguns passos lentamente, começando a chorar.
- Johanne!
- Me perdoa, Glenn... – Ela começa a correr.
- Não me deixa aqui, Johanne! Johanne! JOHANNE!
Ela continua correndo, os olhos fechados, segurando o choro. Em meio aos gritos de Glenn, ela também ouve as criaturas começando a devorá-lo vivo. As últimas palavras de Glenn chegaram como uma faca aos seus ouviso.
- VÁ PRO INFERNO, JOHANNE!
Depois de já cansar de correr, Johanne chega a uma estranha e intacta capela. Encostando-se à parede do pequeno prédio, ela se senta e desaba em choro. Qual foi a surpresa quando um praticamente jovem e bem assustado padre abriu a porta.

O que você pode sacrificar para se salvar?

Terça-Feira - O Homem que Voltou da Cova

O sangue da criatura formava uma poça crescente no meio do asfalto. Sentado na sarjeta, Joe observava o corpo do monstro com um cano de ferro atravessado na cabeça. Ele olha para as próprias mãos sujas de terra, ele ainda sentia frio.
- Será que o inferno é mesmo aqui? – pensou consigo mesmo – não me lembro do que aconteceu... Eu só sei que acordei dentro de um caixão enterrado num cemitério destruído. Só pode ser o inferno... As coisas não eram assim antes do... Meu Deus!
Se recordando do local em que estava sentado, Joe se levanta e corre por algumas ruas, parando em uma casa tão destruída que custou a ele reconhecê-la. A chuva de cinzas e o céu escuro de nuvens faziam a cena ser mais horrível ainda. Joe entra na casa e observa o que seria a sala de estar. Um aperto lhe subiu pela garganta.
- Anna... Mick... Não... Não é real...
Joe vai até os restos de uma escada e senta no primeiro degrau. Ele coloca as mãos na cabeça e começa a chorar.
Ele era um policial, e um dos melhores. Homenageado como herói da cidade, fez uma boa carreira, tinha mulher e filho. No seu último mês de trabalho antes de sair da corporação ele se envolveu em um caso, o de um serial killer chamado Dwight ou Butcher, o monstro.
No seu último dia em serviço ele encontrou o assassino.
- Eu... Eu morri!
Sem acreditar nas próprias lembranças, Joe ainda tem na mente a imagem do assassino lhe enfiando o facão no estômago, depois disso apenas o vazio.
Joe se levanta ainda confuso. Precisava saber o que aconteceu com a sua família, o que aconteceu com o mundo! Em algum lugar haveria de sobrar alguém vivo e, se houvesse, teria de encontrar essa pessoa.
Sem rumo certo, Joe caminha pela rua. Aquele ambiente era insuportável. O calor parecia aumentar e o céu era uma noite constante. Ele ainda pensava no porque de ter voltado, e já havia quanto tempo desde que ele morreu?
Um som de algo sendo rasgado interrompe o pensamento de Joe, que rapidamente recua antes de virar uma esquina. Por pouco não foi notado por outras daquelas criaturas. Eles pareciam humanos, não, eram humanos! Mas parecia ter algo de errado, algo morto dentro deles. Eles rasgavam a carne de uma pessoa, agora irreconhecível, e devoravam os restos.
- Se eles estão comendo, é porque mataram essa pessoa recentemente, tem gente viva aqui!
Joe se vira para sair sem chamar a atenção, mas só há tempo de sentir a mão fria e seca agarrando seu ombro. Joe cai no chão com a criatura em cima dele e rola, lutando para não ser devorado. Com muito esforço ele imobiliza o monstro e quebra seu pescoço, porém não pareceu surtir nenhum efeito. Mas ao menos a criatura não conseguia mais mordê-lo. Ele a chuta e se levanta, e percebe que a confusão chamou a atenção das outras criaturas, que abandonaram sua refeição para atacá-lo. Na fúria, Joe se atraca com uma das criaturas e a empurra até os destroços de um carro em chamas, jogando ela em cima. A criatura grita e sacode até que enfim morre queimada. A outra criatura pula nas costas de Joe, que apesar do esforço não consegue se soltar. Ele já sente os dentes dela no seu pescoço quando ela subitamente o solta e cai ao seu lado, a cabeça dela rola por mais alguns centímetros. Joe se levanta. Alguém o ajuda a ficar de pé.
- Você ta legal? – era um jovem muito branco magrelo, cabelo negro despenteado e barbicha, segurava um machado de incêndio – Vem comigo, eu tenho um lugar seguro.
Alguns poucos minutos de caminhada e o jovem guia Joe por um buraco entre alguns prédios. No fim do buraco havia uma sala bem segura por uma barricada, dentro dela havia um radio transmissor aberto, latas de comida, dois galões cheios de água e um pela metade, alguns panos espalhados forrando o chão e vários livros com temas como conspirações, religião e apocalipse. Joe e o jovem se sentam no carpete improvisado da sala.
- Você sabe o que diabos está acontecendo aqui?
- Ta brincando, né? Onde você ‘tava esse tempo todo? – O jovem olhou de uma forma incrivelmente surpresa para Joe – É o Armaggedon, cara! Desde cinco mil anos atrás que...
- Olha, olha... – Joe o interrompeu. Realmente não se interessava em saber tal coisa – desde quando que isso tudo começou? Sabe, essa destruição.
- Você andou bem desinformado, hein. Já faz três semanas. Só nesse tempo o mundo inteiro se transformou nesse inferno! E aqueles idiotas não quiseram me ouvir quando...
Joe não escutou nada mais que o jovem disse. ‘Três semanas’, ele pensou, ‘Tudo aconteceu antes disso’.
-... E então nós estamos na última semana antes do “Castigo Final” sobre a humanidade... Ei cara, ‘tá acordado? – O rapaz estalou os dedos algumas vezes na cara de Joe.
- Ah, desculpa... Você disse que essa é a última semana?
- É, segundo a “profecia”, este sábado já vai ser dia 22 de Dezembro, e enfim tudo acaba. Hoje já é terça.
- Acha que ainda pode ter alguém vivo por aí?
- Sem chance. Eu monitorei redes de comunicação o tempo todo desde antes disso tudo começar. Se bobear esta é a última cidade com gente viva no mundo.
Joe ficou em silêncio depois disso. Será certo ainda manter as esperanças de reencontrar sua esposa e seu filho?
- Não posso ficar aqui, tenho que descobrir se tem mais alguém vivo – disse Joe, já fazendo menção de sair.
- O que!? ‘Tá maluco? É... É suicídio!
- Não tenho nada a perder mesmo... Não mais.
O silêncio dominou por alguns segundos. De alguma forma o jovem pareceu entender o sentimento de Joe.
- Pelo menos come algo aí. Se for sair, é capaz dessa ser a última vez que você vê comida.
- Obrigado... Qual o seu nome?
- Me chama de Mick... Todo mundo me chama assim. Digo, chamava.
- Heh... – As lembranças da família de Joe voltaram a sua mente outra vez.
- Que foi?
- É o mesmo apelido do meu filho.
Depois de uma rápida e silenciosa refeição enlatada, que ao ver de Joe tina um gosto pior que a aparência, ele se prepara para sair.
- Mick... Se o mundo não acabar, vê se fica vivo.
- E você também. Se cuida, cara.
Joe sai do esconderijo e volta a caminhar, sem rumo, pela cidade destruída.

O que leva um homem que perdeu tudo a lutar por alguma coisa?

Quarta-Feira - O Serial Killer

Era uma madrugada de quarta-feira, o pequeno Dwight sai da cama, não conseguia dormir por causa dos gritos dos seus pais.
Andando pelo corredor em direção à cozinha, algo molha seus pés. Um líquido vermelho escorria da cozinha e se espalhava pelo corredor. Assim que entra na cozinha, Dwight vê sua mãe caída no chão, sangue saía do corpo imóvel dela. Ao lado o pai com uma faca ensangüentada na mão, a face dele era horrível. Ele grita, Dwight tenta correr, a dor é insuportável.
Finalmente Dwight acorda, era uma péssima hora para ter sonhos da sua infância, aquele foi o dia em que jurou que ninguém seria mais forte que ele. Aos poucos ele tenta se lembrar do que aconteceu, por que estava preso naquela cadeira?
“Dwight Morris Jr... Butcher... 250 pessoas... 33 oficiais militares... massacre... violento... cadeira elétrica”, as palavras ecoavam na sua mente, as duas últimas o despertaram. Estava na cadeira elétrica, era o dia da sua condenação, ele foi eletrocutado. Mas como podia estar vivo?
Havia sangue por todos os lados, alguém ou algo matou todos os guardas e testemunhas. Será que foram os tais infectados pela “epidemia desconhecida” que falavam na mídia? Seja o que for ele estava vivo, e os policiais não.
As amarras da cadeira pareciam velhas. Ele as arrebenta com pouco esforço, se levanta, estica os braços e o pescoço, estrala alguns ossos e sai pela porta da frente. Assim que passa pela entrada destruída do prédio e chega na rua, encontra um cenário apocalíptico. Dwight apenas solta um assovio.
- Então as coisas mudaram mesmo...
Andando um pouco pela cidade, Dwight logo encontra alguém de joelhos no asfalto comendo algo que parecia ser carne. Ele se aproxima devagar, mas a pessoa o ouve e se vira. A ‘pessoa’ tinha os olhos completamente brancos, e seu corpo era magro, pálido e distorcido. Ela urra e corre na direção de Dwight, que logo percebe algo diferente. Uma pessoa normal não avançaria assim contra ele, percebendo seu avantajado porte físico.
Apenas com uma mão, Dwight segura a ‘pessoa’ pela cabeça e a joga com toda força contra o chão, depois pisando na cabeça da mesma. Sangue e cérebro se espalham pelo chão.
- Tsc... Criaturas frágeis, não valem nem meu esforço.
Desde o dia em que sua mãe foi morta, ele jurou ser mais forte que todos. E matando todos os que encontrava em seu caminho, seu gosto foi se tornando mais seletivo. Com o tempo sua força cresceu, e Dwight passou a caçar as pessoas que considerava realmente fortes, além de matar todos os policiais e soldados que tentavam pegá-lo. Ele não conhecia mais dor, nem medo, e as coisas estavam ficando tediosas. Até que ele se confrontou pela primeira vez com um policial. O mesmo policial que ele assassinara, o mesmo policial que mesmo morto conseguiu fazer com que Dwight fosse preso e condenado a morte. Mas agora ele estava de volta neste inferno.
Seu breve confronto com aquela criatura chamou a atenção de outras. Quantas eram Dwight nem ligava. Conforme elas avançavam, ele se atracava com elas. Quebrou braços e pescoços, esmagou cabeças, rasgou membros, o sangue jorrava sobre ele. Um esboço de sorriso apareceu no meio do gigante vermelho que Dwight parecia ser. Aquelas criaturas eram realmente frágeis, mas isso havia despertado nele aquele desejo insano que parecia não sentir a anos.
Dwight passa por cima dos corpos despedaçados das suas novas vítimas, caminhando com calma, apesar de tão eufórico que poderia enlouquecer.
- Há de ter alguém forte ainda. E essa pessoa vai ser minha!

Será a convicção de um homem forte o bastante para ultrapassar a morte?

Quinta-Feira - O Paranóico

“Falta só três dias, contando hoje... Mais três dias e o mundo acaba... Eu sobrevivi, eles não quiseram me ouvir, não se prepararam, mas eu estou aqui... acho que sou o último homem vivo na Terra, ninguém mais se preparou tanto... Ninguém... As criaturas nunca vão me pegar, esses condenados do demônio...”. Mick andava de um lado a outro de seu pequeno ‘esconderijo’, pensando alto. Pela pequena janela ele podia perceber a mudança no céu recentemente. Agora não mais o céu se limita a nuvens negras e chuvas de cinzas. Raios caem com freqüência e algumas vezes chovem pequenas chamas que se apagam muito antes de chegarem ao chão. Algumas vezes as cinzas se parecem com penas, Mick pensava as vezes se essas penas não seriam dos corpos mortos dos anjos derrotados, caindo na Terra.
Voltando alguns anos na sua memória, Mick se lembra de uma conversa com um velho amigo teólogo, demonologista e um grande filósofo (ao menos para Mick ele era), Prof. Abraham Von Morden. Ambos na biblioteca do professor, que quase nunca saía de lá, caminhando por entre as estantes infindáveis de livros.
- Acreditaria se deu dissesse, Mick, que a vida como conhecemos não passa de uma mera ilusão que um dia será destruída por forças maiores controladoras? – disse o professor, como sempre com uma voz cansada, rouca e baixa.
- Como assim, professor? – Na época Mick tinha uns 17 anos, era muito ingênuo e nem imaginava o que iria descobrir naquele dia.
- Vou te contar uma história, o motivo de eu ter passado os últimos cinco anos lendo todos esses livros... Acreditar ou não cabe a você, mas afirmo cada vírgula nisto que vou te contar...
“Como é de conhecimento de boa parte dos cristãos católicos, após a criação do ser humano, Lúcifer – o anjo mais belo que Deus criou – Se revoltou com a importância dada a uma criatura tão podre e subversiva que o ser humano era. Após isso, Lúcifer foi aprisionado em um mundo de fogo e sofrimento, longe de todos a quem poderia fazer mal. Porém haviam criaturas de quem Lúcifer rapidamente conseguiu ajuda, os demônios. Criaturas essas saídas de um vácuo negro e profundo chamado Abismo. Em algumas brechas no tempo, várias dessas criaturas escaparam para o mundo material, sob várias formas, nomes e origens, a mando de Lúcifer para que, com o tempo, despertassem a escuridão na alma humana e mostrasse para Deus o quão imperfeita e inútil era essa sua criação, arrastando todas as almas humanas para a mesma condenação. Para evitar isso, os seres chamados de anjos também desceram dos céus, sobre outras variadas formas e nomes, derrotando e sendo derrotados pelos demônios, e ensinando aos humanos o valor das virtudes. Com o tempo, isso se tornou uma competição.”
“Há alguns milênios, representantes espirituais na civilização maia devem ter recebido um sinal, e através de um ensino de origem sobrenatural de astrologia e arquitetura, construíram um calendário para ser exposto ao mundo todo. Esse calendário representava o prazo do acordo entre Deus e Lúcifer: No dia em que seria atualmente 22 de Dezembro de 2012, se os humanos não se provarem seres valorosos e dignos da existência, Lúcifer se levantaria com seu exército, racharia a terra, queimaria os céus, secaria os oceanos, condenaria as almas dos mortos pelos demônios e por fim cobriria a terra com fogo eterno. Até lá nenhum anjo ou demônio deveria interferir na vida dos humanos. Apesar da imparcialidade e respeito de Deus ao acordo, alguns anjos não suportaram ver o estado da humanidade e quebraram o trato, interferindo na vida de várias pessoas. Porém, quando os arcanjos foram mandados para punir os anjos desobedientes, descobriram que os próprios demônios já vinham interferindo na vida humana por séculos. Isso estreitou os limites do acordo. Estamos a 3 anos da dita data, e acredito que já consegue perceber o caos latente que está crescendo aos poucos pelo mundo. No dia 22 de Dezembro de 2012, o acordo acabará, e uma guerra de proporções bíblicas acontecerá na Terra. E podemos garantir que os humanos não vão estar do lado vencedor.”
Mick observava o professor, atônito, mas absorvendo cada palavra que ele dizia.
- Eles não acreditam mais em mim, Mick. Sou apenas um velho louco e obstinado. Você tem que mostrar ao mundo! Você tem que contar para eles, tem que ver a verdade! Se o mundo continuar assim até 2012, será o... fim... de todos... – o Prof. Abraham começava a tossir mais do que conseguia falar, ele tomba e Mick o segura. Ele para de tossir.
- Professor Abraham! Professor Abraham! Profe...
Mick sacudiu o velho, que caiu no chão com a face para cima. O sangue escorria aos poucos pela boca dele, formando uma minúscula poça de sangue em volta de sua cabeça.
Voltando a realidade, Mick contemplava o céu negro. Ele sabia o que fazer. Não havia mais ninguém para ouvir suas tentativas inúteis de gritar a verdade. Tudo que restava era ficar cara-a-cara com a besta, com a criatura que ele sabia ter causado tudo na cidade.
Pouco tempo antes de a desgraça cair em Midtown, foi noticiada a aparição de um vulcão ativo no subterrâneo de um parque no centro da cidade. Com o tempo o tal vulcão se tornou uma cratera de fogo imensa, e até hoje era possível ver as erupções subindo pelo céu.
Mick pegou sua espingarda guardada no velho baú de seu pai. Provavelmente aquela era a última arma de fogo no mundo, e o último homem no mundo iria usá-la em busca da verdade. Ele a carrega de munição e guarda o resto consigo. Bebe uma última garrafa de vodka, que estava horrivelmente quente, mas era bom para dar coragem. Saindo pela porta do abrigo pela última vez, ele respira fundo e caminha, sempre com cuidado.
Não custa muito até, algumas quadras depois, bem próximo ao parque, a presença dele chamasse a atenção de algumas criaturas. Não só algumas, dezenas delas. A velha espingarda emperra um pouco, mas dá conta de várias delas, apesar do corpo franzino, a firmeza e precisão dos tiros era comparável a de um profissional, fruto do seu treinamento quando foi criado por seu pai, praticante de tiro-ao-alvo e caçador. Após cerca de vinte criaturas mortas, Mick corre por cima dos corpos, a munição já estava no fim e o número de criaturas aumentou mais. Quando então ele sente algo segurando firme seu calcanhar. Ele cai e solta a espingarda, e assim que olha para trás percebe que uma das criaturas não havia morrido. Ela se agarra na perna de Mick com força e enterra os dentes na coxa dele. Ele grita de dor e tenta alcançar a espingarda, enquanto a criatura puxava com os dentes um grande pedaço da coxa dele. Mick pega sua arma e a coloca na boca da criatura.
- Ta aqui a sobremesa, filho da puta! – Ele atira, estourando a cabeça do monstro.
Mick se levanta, a perna está ruim, mas o ferimento não sangra mais. Isso por causa da doença que essas criaturas causam. Primeiro a necrose no local da mordida, depois a vida da pessoa se esvai e em algumas horas tudo o que resta é um corpo canibal e feroz que acaba com tudo que cruza seu caminho. Ele já estava condenado, então não haveria mais meia volta, nem medo.
Mancando o mais rápido que pode, Mick chega até a cratera. O calor do fogo parecia lhe queimar até a alma. Ele vê o que parece ser uma ilhota de pedra no meio do magma, não havia mais nada por lá. Frustrado e enfurecido pela dor, Mick atira sua última bala na ilhota. Tal é sua surpresa quando ela se abre. Aquilo era na verdade um olho! O olho começa a se erguer, levantando consigo a lava. Assim que a lava escoa, Mick consegue ver a figura que havia surgido. A sombra das asas torna tudo em volta dele uma escuridão absoluta. Mick fica sem palavras, enquanto tudo a sua volta parece estar parado no tempo, muito longe de toda a luz, de toda salvação. Então o fogo o cobre inteiro, não deixando sequer cinzas.

Qual pode ser o preço da verdade?

Sexta-Feira - O Duelo

A escadaria parecia não ter fim. Joe pulava dois degraus a cada passo, tentando chegar no sétimo andar. Já se passaram quase seis meses, é seu último dia válido de serviço, e a pista final da localização de Dwight the Butcher foi confirmada. Ele havia acabado de jogar cinco homens da janela de um quarto no sétimo andar de um hotel no subúrbio de Midtown. Joe disparou sozinho até o local. Já havia enfrentado Dwight antes, mas ele fugiu deixando-lhe apenas uma cicatriz no ombro esquerdo como lembrança.
"Fique mais forte que isso, eu te considero um inimigo a altura...a próxima vez que nos encontrarmos será a última", foram suas últimas palavras antes de fugir. Isso irritou muito Joe, por Dwight tratar tudo isso como uma brincadeira divertida.
Joe pisa no último degrau da escadaria que levava até o sétimo andar,a madeira era fraca então pelo barulho até um surdo perceberia alguém subindo desde o térreo. Joe chuta a porta para o corredor, berrando com todo o seu ódio:
- DWIIIIIIIIIIIIIGHT!!!
Em um quarto próximo, oculto atrás de uma porta, o assassino sorria. Aquele era o dia pelo qual ele esperara toda a sua vida, era o seu duelo de vida ou morte, só ele e seu mais forte adversário.
Joe se aproxima de um dos quartos e arromba a porta,nada. Mais dois quartos depois, e antes de tentar abrir a porta entreaberta sente um calafrio correr pelo seu corpo. Quando ele avança para a porta, ela se abre e ele invade o quarto, quase tropeçando. Alguém fecha a porta, tranca e acende as luzes.
- Voltamos a nos ver, policial.
Joe se vira e olha para Dwight, aquele sorriso maníaco o tirava do sério. Um soco passa rente a sua cabeça, porém seus reflexos ainda estão bons para brigar. Como contra-ataque Joe afunda o punho na barriga de Dwight, que não parecia expressar nenhuma dor, mas um grande contentamento. Dwight levanta Joe no ar e o atira para o meio do quarto, quebrando uma pequena mesa de madeira. Ele se aproxima, e enquanto se abaixa para acertar Joe no coração, o mesmo havia pego uma perna quebrada da mesa e bate com toda a força na cabeça de Dwight, que cai para o lado. Ambos se levantam, Dwight com a face cheia de farpas e sangue. Joe corre até ele e começa a surrá-lo com a perna da mesa. Dwight agarra o pé de Joe e o puxa para o chão, e avança para cima dele como um urso, socando-o no rosto. Joe solta o pé de mesa e consegue segurar um soco, enquanto que com a outra mão atinge o adversário no pescoço. Dwight cai de costas com as mãos na garganta, ofegando. Joe procura sua arma e as algemas. "Merda, ficaram na viatura... então vou ter que segurar ele aqui até o reforço chegar", Joe pensou distraído por um segundo, quando conseguiu ouvir a lâmina passando próximo a sua cabeça. Ele recua o corpo e fica apenas com um pequeno corte no queixo. Dwight tinha um facão velho nas mãos, a ponta parecia torta e enferrujada, mas pelo queixo Joe podia ver que estava bem afiada. Dwight avança novamente, mas dessa vez Joe teve sorte. Ele segura o braço do assassino em que ele segurava o facão e lhe acerta uma cotovelada na cara, e então chutando ele com toda a força. Dwight perde o equilíbrio e quase cai, se encostando na porta para o corredor. Revidando com o pé, Dwight chuta Joe na parede, e avança contra ele com o facão. Joe se abaixa e Dwight atinge a parede em cheio, o facão fica preso.
Joe tateia os bolsos e encontra ao menos seu canivete, ele avança na direção de Dwight e enfia o canivete na cintura dele, porém Dwight foi mais rápido, já havia tirado o facão da parede e enterrado em seu estômago. Joe recua alguns passos,atravessando a porta quebrada que dava para a escadaria, pela qual ele cai poucos segundos antes do reforço policial subir as escadas atrás de Dwight.
Joe está parado, atônito, novamente achava que seus olhos o enganavam, queria que estivesse imaginando coisas. Dwight estava parado a sua frente, do outro lado da ponte. Os raios constantemente caindo em volta deles e a chuva de cinzas e chamas tornava o encontro mais macabro.
Dwight sorria, aquele sorriso maníaco que Joe odiava. Ele estava realmente feliz agora, este era um encontro final, um combate entra dois homens que escaparam da morte. Ele se sentia como uma criança na noite de véspera do Natal, encontrando os presentes sendo colocados na árvore.
Não houve palavras, não houve tempo para pensar, ambos apenas investiram um contra o outro. Os punhos chegaram quase ao mesmo tempo. Joe atinge a cara de Dwight, que o atinge no peito. Ambos se atracam em golpes, Joe segura o braço de Dwight e o quebra. Dwight apenas faz uma rápida careta e desfere um chute em Joe,afastando-o. Ele então coloca o braço quebrado no lugar e acerta um soco extremamente forte na cabeça de Joe. A dor no braço é excruciante, mas a excitação de Dwight faz com que ele nem sinta o impacto. Já Joe cai de joelhos, a visão completamente embaçada pelo choque na cabeça. Aos poucos os sentidos dele começam a retornar ao normal, quando ele sente Dwight o agarrando pelo pescoço e o sufocando com uma força que fácilmente quebraria seu pescoço. Joe se debate contra a chave de pescoço de Dwight, até que enfim acerta um golpe na cara do adversário, que o solta. Joe avança contra Dwight que arranca, com muito esforço, um cano de ferro preso em um pedaço quebrado de concreto. Ele balança o cano e acerta Joe em cheio com o concreto. O cano escapa das mãos de Dwight e cai para fora da ponte. Joe cai de bruços no chão, parecia que um carro o atropelara. Ainda com dificuldade para respirar, ele se levanta. Dwight corre até ele, mas Joe lhe acerta um soco que arranca uns dois ou três dentes da boca. Ele então agarra Joe pela caminsa e bate com a cabeça contra a cara dele, depois chutando-o para a lateral da ponte.
Por um minuto tudo pára. Não há som,nem movimento. Tanto Joe quanto Dwight, ambos em lados opostos da ponte, avançam um contra o outro. O choque é forte, quando então Joe se mostra mais forte e empurra Dwight para fora da ponte. Dwight o segura pelo braço e ambos caem, trocando socos durante alguns segundos. Eles estão quase a ponto de atingirem o mar de ferro e chamas abaixo quando Joe coloca Dwight abaixo dele, e com um urro de fúria que lhe tirou toda a voz, Joe acerta um soco em Dwight no momento em que chegam ao chão. As chamas sobem alto e logo depois há apenas uma pequena chuva de chamas sobre os dois corpos carbonizados e quebrados. Na mão de Joe,o arrancado e ensanguentado coração do assassino Dwight the Butcher.

Não há vencedores numa guerra

Sábado - O Último Dia

O Padre observa o céu pela janela suja de pó da capela. As coisas mudaram nos últimos dias, e hoje as criaturas estão quietas, o mundo inteiro parece ter parado. A fome a sede nem incomodam mais, mas a presença da jovem Johanne o perturba.
O Padre se dirige ao altar, e se surpreende ao ver a garota ajoelhada, não se sabe se chorando ou orando, mas era a primeira vez que a via assim. Ele se aproxima e se abaixa, ficando atrás dela, apoiando as mãos em seus ombros.
- Talvez não seja tarde para uma confissão, minha filha.
- Não, eu... eu só... eu só... - Entre as pausas, Johanne começa a soluçar,e desaba em choro - Eu não sei o que eu fiz, eu...
O Padre a interrompe, se senta no chão, a abraça e apóia a cabeça dela em seu peito. Isso conforta Johanne, que começa a ter uma estranha sensação por se confortar no corpo do Padre. Desejo.
- Padre,eu...não posso, tenho coisas na minha cabeça que...
- Está tudo bem. Acho que não há mais espaço para culpa ou tempo para redenção.
- Mas eu...
Ele a interrompeu novamente com um beijo, ela não resiste. Ambos sobem até a mesa do altar e, já despidos, satisfazem sua ansiedade, a ânsia pelo prazer. Eles adormecem depois.
Se passam algumas horas, Johanne não consegue saber quantas. Nos fundos da capela encontrou uma caixa de ferramentas, agora aberta aos seus pés. A pequena lâmina quebrada refletia distorcida a sua face.
"Deixou aquelas pessoas morrerem, deixou Glenn morrer... transou com um padre! Que tipo de pessoa você se tornou, Johanne?" pensava ela, a culpa pesando na consciência, insuportável, inesquecível. O que ela fez estava carregado na sua alma. "Não mereço viver", pensou olhando para a lâmina.
- Me desculpa Gleen,padre...perdão, Senhor...
As lágrimas escorrem, enquanto Johanne morde os próprios lábios com força, não quer fazer barulho. A lâmina corre pelos seus pulsos rapidamente. O choro se mistura ao grito contido de dor, seus lábios sangram. O sangue dos pulsos cobre todo o piso, a dor pára. Johanne descansa, os olhos fechados, a respiração acaba e o sangue escorre aos poucos.
O Padre observa o lago. A neblina a sua volta era densa, havia apenas ele, o banco de praça em que sentava e o lago sereno a sua frente. O Padre olha para o lado, havia um velho de roupas sujas sentado com ele, com não havia notado sua presença até agora?
- Como vai, filho?
- Bem, eu acho...onde estou?
- Onde você quer estar. Esse lugar lhe traz paz, não?
- Sim... eu precisava de um pouco de descanso.
- Tempos difíceis, não?
- É. Acho que o Senhor realmente se cansou de nós.
- Não o julgue tão mal, eu sei que Ele se importa com todos... nem sempre foi fácil para um pai tomar conta de todos os seus filhos.
- Mas veja o que aconteceu! O mundo está uma ruína!
- Eu sei... você verá logo.
O Padre encara o velho, os olhos dele pareciam cansados, porém gentis. E sua face expressava ternura e seriedade.
- Quem é você?
O velho sorri.
- Não perca fé N'ele,filho. Ele não perdeu a fé em você.
Tudo escurece. O Padre se levanta. Foi um sonho? O silêncio era perturbador, Johanne não estava lá. Uma leve poça vermelha escorria por debaixo da porta dos fundos. O Padre se cobre rapidamente e abre a porta. Seu coração se apertou, e o sangue ainda caía dos pulsos pendidos de Johanne. Ele a segura nos braços, seu corpo ainda estava quente.
Com cuidado, a põe no altar, se ajoelha a frente dela e faz as orações. Logo após o sinal-da-cruz, se levanta e beija a testa de Johanne.
- Descanse em paz no reino do Senhor, e que Ele tenha misericórdia dessa pobre alma.
Um som muito baixo chama a atenção do Padre, que vai até a janela. O som cresce cada vez mais. Algo parecia estar vindo do céu.
As nuvens se abrem, a luz é intensa. Não sabia se a enorme bola de fogo estava vindo do céu ou saindo da terra, pois era tão grande que parecia uma cortina de chamas tapando toda a visão, logo céu e chão não se diferenciavam mais.
O Padre fecha os olhos, as chamas passam pelo seu corpo. Não resta nada.

Quando se chega ao fim?